‘Anatomia da ascensão ao poder da grande mídia brasileira’
Em tempos de autoridade que proclama o que é verdade ou mentira, uma notícia é certa: a autoridade sobre a busca da verdade da grande mídia brasileira está em julgamento. Sua parcialidade política explícita nas últimas eleições se arrasta por agora. A aversão a tudo que cheirava a conservadorismo ou “bolsonarismo” se converteu agora em apologia desacertada a tudo que remete ao suposto “progressismo” do “lulopetismo” alçado ao poder .
Se a grande imprensa abandonou a isenção para alterar o jogo de forças do poder, então a imprensa tornou -se um poder. Mas a imprensa, o jornalismo não seriam exatamente oposição ao poder, como dizia o Millor Fernandes? Pois é: o vasto armazém midiático de secos e molhados que antes vendia o “bolsonarismo” como sendo um regime nazifascista, genocida e ditatorial, como ficção de expectativa de um monstro autoritário que nunca se confirmou , agora dá de graça uma complacência nunca antes vista a um governo recém eleito.
O constrangimento é que esta mídia advoga cegamente um desastre anunciado e executado: o populismo fiscal , a gastança anunciada, a leniência com o crime com um governo já condenado por crimes passados reverberam inflação alta, desemprego, desabamento de Bolsa de Valores, fuga de capitais, invasões de propriedades, alta de criminalidade, que são explicados por esta mídia, ora por uma herança maldita que não houve, pelos números sócio-econômicos positivos do governo anterior, ora pela velha demonização “canhoteira” do mercado: investidores e empreendedores que geram trabalho e renda voltam a ser os vilões pintados por um estado que incha seus gastos, suga seus impostos e culpa quem faz a economia girar .
A demência vingativa de Lula contra a Lava Jato — que combateu a corrupção de colarinho branco — é justificada pela demência ideológica de uma mídia que derrotou um presidente pela ficção — o Bolsonaro genocida e fascista — e elegeu outro por esconder sua verdade — o Lula condenado por corrupção comprovada . A rejeição a Bolsonaro foi julgada pelo assassino ditador que ele nunca foi; a rejeição a Lula foi pelo que ele é: o presidente responsável e condenado pelo maior esquema de corrupção da história da República. Depois desta distorção dos fatos, como a própria grande mídia poderia justificar sua tendenciosidade? Seguindo a própria ficção esquizofrênica que criou pra justificar seu poder de manipulação da verdade para chegar a seu princípio de verdade deturpada por sua ideologia. Temos então a explicação da mídia partidária: sua ideologia .
A ideologia sufoca a verdade, limita a verdade ao molde de quem quer enquadrar a realidade ao seu desejo. A ideologia é o oposto, pois, do jornalismo que busca a verdade dentro da realidade. Esta inversão do princípio básico do jornalismo começa nas faculdades de comunicação. Ali, ideólogos militantes são formados em massa para enquadrar a realidade de acordo com os moldes da esquerda. Pergunta cândida do leitor: por que o domínio da esquerda, não só na comunicação, mas nas escolas, nas artes e em todas as instituições culturais? Porque a esquerda é fácil de ser apreendida, fácil de ser vendida. Porque vende ressentimento, vitimização e culpa sempre no outro.
Como na teoria do bom selvagem de Rousseau, é fácil um bom selvagem culpar toda a sociedade por suas misérias pessoais: a mulher que eu não tive, o emprego que perdi, as traições que sofri, o homem que não fui, tudo isso é culpa dos opressores da civilização — o pai, a família, a Igreja, o patrão, o macho adulto branco, os vilões mudam de estereótipo. Vende fácil o ressentimento em escala moral e intelectual. Em escolas, universidades, centros culturais, artes , redações ,sobretudo para a juventude, culpar o outro é sempre um vício virtuoso. Já a direita conservadora, cética, vem lá do pecado original. Seu princípio é que todos nascem canalhas. Todo mundo é essencialmente ruim. Todo mundo é egoísta e opressor em essência e ação possível. Só saímos de nossa ruindade pela misericórdia: quando olhamos nossa ruindade espelhada na ruindade alheia e tentamos tirar o outro de sua miséria. Reconhecendo nossa ruindade espelhada no outro , tirando-o da lama, conseguimos tirar nós mesmos de nossa lama primordial .
A direita, como princípio cético da natureza humana, é o oposto da esquerda do bom selvagem de Rousseau que desconfia de todos, menos dele. Uma promove a generosidade pela desconfiança de si mesmo; a outra gera a arrogância de se crer puro e vítima de todos em redor. A mídia brasileira é essencialmente formada por uma maioria de auto proclamados puros que falam por vítimas da opressão social, individual e identitária que sequer se reconhecem no vitimismo gerado por esta mídia que massacra quem se coloca contra o discurso do ressentimento. A mídia brasileira é um poder que quer salvar a todos pela opressão de quem não concorda com ela. Um paradoxo ensandecido .
Portanto , uma palavra mal colocada que soe ofensiva a uma das mil minorias vitimizadas, uma ideia contrária à de que um criminoso seria uma vítima social, um gesto contra o massacre de um patrão, contra a contestação do machismo ou racismo estrutural, e você, quer seja uma pessoa comum ou um presidente da República, torna-se um vilão, um fascista a ser eliminado.
Por outro lado, caso você esteja do lado certo, tudo lhe será permitido: falas homofóbicas, sexistas, racistas, desejos de ódio, vingança, de massacre ao inimigo serão bem vindas. Paradoxo segundo, mais esquizofrênico ainda: as regras de conduta progressistas são eliminadas se você simplesmente se coloca ao lado do poder progressista. O poder desta ideologia (pseudo) progressista vira um poder pelo poder, desprovido das idéias e ideais da própria ideologia que o gerou . É este exatamente o poder que gerou e que tem a grande mídia brasileira hoje.
Os paradoxos abissais deste poder rompe ainda mais as raias da insanidade quando a ruína moral e econômica de um país é colocada como projeto do governo que foi em grande medida eleito por esta mídia. Pelo poder, pela boa palavra, utopia, destruição de quem se persegue como criminoso, a ruína de todos, no interesse comum da poderosa grande mídia que acredita falar pela verdade mais pura de suas boas intenções.