Tratores roubados no Brasil, que valem milhões, abastecem mercado ilegal na Argentina
Investigações de policiais brasileiros mostraram que máquinas agrícolas roubadas no Brasil foram parar nas lavouras da Argentina. A crise no país vizinho aqueceu o mercado para crimes na região de fronteira.
De acordo com o jornal Gazeta do Povo, em muitos casos, os produtores argentinos usam o maquinário roubado sem saber a origem criminosa. Uma colheitadeira e um trator novos têm o preço médio de R$ 600 mil e R$ 800 mil, respectivamente. Mas o valor de alguns deles passa da casa do milhão de reais.
A busca pelas máquinas agrícolas roubadas no Brasil é trabalhosa, comenta Gildeto Stel Meira, agente aposentado da Polícia Federal (PF). Ele trabalhava na região de Santo Antônio do Sudoeste e Barracão, no sudoeste do Paraná, fronteira com Misiones, entre 2018 e 2020.
“Leva-se meses para identificar onde o veículo foi vendido, quem foi o primeiro comprador, com quem estava no momento do furto, se houve registro de um boletim de ocorrência”, explica. “Não é como num carro que existem diversas formas de identificação e de controle.”
A região de fronteira entre Brasil e Argentina tem pouco mais de mil quilômetros. Deles, apenas 25 são de terra firme, localizados entre Barracão e Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná. Ainda assim, existem pontos alagados onde é possível fazer a travessia dos equipamentos.
“Muitos veículos entraram no país vizinho atravessando o Rio Santo Antônio rodando”, disse Meira. De acordo com o policial, as águas são rasas ao ponto de ser preciso apenas caminhar para fazer a travessia.
“Somente no leito do Santo Antônio identificamos 35 pontos de passagem que foram sendo fechados, destruídos, interditados, mas que agora estão voltando a operar”, comentou.
Para tentar conter os roubos de máquinas agrícolas no Brasil, as polícias estaduais atuam junto com as forças federais. “Por serem crimes internacionais, a investigação é da Polícia Federal, mas a parceria tem auxiliado no impedimento da passagem de muitos veículos”, disse Marco Smith, delegado da PF, atuando há 15 anos na região de fronteira.
Smith admitiu que o contrabando de máquinas agrícolas roubadas no Brasil rumo à Argentina está crescendo. Contudo, ele afirmou que criminosos estão encontrando mais resistência graças à parceria com as policiais estaduais.
Realizada pela Polícia Civil do Paraná, a Operação Pantaneira, por exemplo, mirou em uma quadrilha que agia nas regiões norte e oeste do Estado. A ação resultou na prisão de um suspeito e na recuperação de parte das máquinas furtadas.
Outra investigação que se destaca é a Operação Divisa Integrada, que investigou alvos nos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
As duas operações tiveram origem em 2021, com o aumento dos furtos e roubos de tratores, sobretudo no interior paulista. De acordo com Meira, nem tudo que é roubado ou furtado segue para a fronteira. Mas ele destaca que as investigações mostraram que parte das máquinas agrícolas roubadas no Brasil, em Estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, foram levadas para a Argentina.