O presidente-executivo da Shell, Ben van Beurden, disse que a crise energética pela qual passa a Europa “provavelmente durará mais de um inverno” e alertou que a região pode precisar racionar energia por vários anos. A previsão, em meio à diminuição do fornecimento de gás pela Rússia e à disparada dos preços da energia, foi feita em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira, 29, na Noruega.
Presidente de uma das maiores empresas de petróleo e gás do mundo, Beurden disse que a crise vai testar a “solidariedade” entre os Estados-membros da União Europeia, já que os governos estão repensando decisões anteriormente tomadas, como a eliminação gradativa de energia proveniente de combustíveis fósseis e a desativação das usinas nucleares.
A Europa é extremamente dependente da energia russa, sobretudo do gás, e, por isso, o presidente da Shell afirmou que “é improvável que as pressões sobre o fornecimento de energia se limitem a ‘apenas um inverno’”. “Pode ser que sejam vários invernos em que tenhamos de encontrar soluções por meio de eficiência, racionamento e a construção muito rápida de alternativas”, disse ele. “Que isso vai ser de alguma forma fácil, acho que é uma fantasia que devemos deixar de lado.”
Os sinais de tensões no setor de energia já começam a aparecer. A concessionária finlandesa Fortum, cujo acionista majoritário é o governo, comunicou hoje que pediu ao governo um aporte financeiro para tentar manter as tarifas em patamar aceitável.
Também presente no evento na Noruega, para assinatura de um acordo sobre captura e armazenamento de carbono entre empresas de energia da Europa, o presidente da companhia francesa Total Energies, Patrick Pouyanné, repetiu o alerta do executivo da Shell. “Meu conselho para os governos e formuladores de políticas europeus é que vocês precisam pensar sem [gás russo], e se vocês pensarem sem ele, nós conseguiremos”, disse ele. “Há energia suficiente neste planeta para passar sem ela.”