Mais um efeito devastador do isolamento social imposto como medida para conter a pandemia de covid-19 está sendo conhecido agora, com a publicação, pela revista Jama Network Open, dos resultados de um estudo sobre o aumento de casos da síndrome do bebê sacudido (SBS) em Paris.
A SBS é um conjunto de lesões cerebrais causadas após o bebê ser sacudido de maneira violenta — mesmo que por apenas alguns segundos. A síndrome, também chamada de traumatismo cranial por maltrato, é a forma mais grave de abuso e negligência infantil e a causa mais comum de morte traumática entre bebês em países de alta renda. Pode afetar bebês de poucos meses, mas também pode acometer em crianças pequenas de três a quatro anos.
A incidência dos casos dobrou e sua mortalidade aumentou nove vezes na região de Paris entre 2020 e 2021, em comparação com o período antes da pandemia (2017-2019). A análise dos dados foi feita por equipes do Hospital Necker-Enfants Malades, um hospital-escola ligado à Universidade Paris Cité, e do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisas Médicas (Iserm). Os pesquisadores analisaram a evolução da incidência e gravidade da síndrome em bebês de toda a grande região metropolitana de Paris.
Quando não causa a morte da criança, a SBS está associada a doenças graves a longo prazo, como distúrbios do neurodesenvolvimento (epilepsia, deficiências motoras e visuais, distúrbios de linguagem, deficiência intelectual e anormalidades comportamentais) e podem resultar em incapacidade ao longo da vida.
Ao todo, 99 bebês com SBS foram incluídos no estudo. Para todos esses bebês, os sinais de gravidade da violência infligida foram muito frequentes: 87% tiveram ruptura das veias ponte (que ligam o cérebro à parede interna do crânio), 75% hemorragias retinianas, 32% fraturas, 26 % um tipo de crise epilética prolongada e 13% morreram.
Em comparação com o período entre 2017 e 2019, a incidência de SBS permaneceu estável em 2020, depois dobrou em 2021, e sua mortalidade foi multiplicada por nove, revela o estudo.
Para os pesquisadores, o fato de o aumento não ter ocorrido durante o primeiro ano da pandemia, quando das medidas de contenção e mitigação extremas, mas durante o segundo ano poderia ser explicado por um acúmulo de sofrimento psicossocial.
Os autores do estudo lembram que, desde o início das medidas de lockdown, membros da comunidade científica, médica e social alertavam sobre o risco de uma “explosão” da incidência de abuso e negligência infantil, em particular da SBS.
