Quem é o CEO que levou o banco do Silício à falência
“Costumo dizer às pessoas que tenho o emprego bancário mais legal do mundo”, disse Greg Becker, então CEO do Silicon Valley Bank — banco do Vale do Silício —, em um podcast em 2019. “Trabalhamos com as empresas mais legais do mundo.”
Aos 55 anos, Becker estava no comando do banco e aproveitou para surfar a onda de taxas de juros baixas e políticas de dinheiro fácil. No entanto, no ano passado, quando o mundo mudou e o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) começou a aumentar as taxas de juros em seu ritmo mais rápido em décadas, Becker e sua equipe praticamente ignoraram o cenário econômico mundial se concentrando na indústria de tecnologia.
Ele entrou na instituição em 1993. Em 2011, Becker já era diretor executivo e transformou o SVB em um dos 20 maiores bancos dos EUA.
Uma prática recorrente adotada pela instituição era pedir frequentemente que as startups fizessem seus serviços bancários quase exclusivamente com o SVB, em troca de taxas de financiamentos mais generosas.
Durante anos, essa estratégia valeu a pena. Os depósitos aumentaram 86% em 2021, com as ações da empresa subindo 75%, após crescerem 54% em 2020.
Entretanto, surgiram céticos, alguns preocupados com o crescimento vertiginoso da empresa e outros começaram a apostar contra o banco.
Há um ano, 1,4% das ações da empresa havia sido vendida a descoberto por investidores pessimistas, mas esse número subiu para 6,7% no final de 2022. Resultado: no final do ano passado, as ações do SVB caíram 66%. (Venda a descoberto é uma operação financeira que consiste na venda de um ativo esperando que o preço caia para então comprá-lo de volta e lucrar com a diferença)
O banco ficou sem diretor de risco durante a maior parte do ano passado, depois que Laura Izurieta deixou o cargo em abril e seu sucessor não foi anunciado até janeiro. A saída de Izurieta foi divulgada pela primeira vez pelo banco no final de fevereiro.
A tecnologia passou por tempos difíceis no ano passado. O Fed elevou as taxas de juros, tornando os investidores menos dispostos a assumir riscos. As empresas de criptomoedas implodiram, o mercado de IPO — oferta pública de ações — secou e a Nasdaq, bolsa de valores com as principais empresas do ramo, perdeu 33%, sua maior queda desde a crise financeira de 2008.
Mesmo diante desse cenário, o SVB continuou apostando alto — que as taxas estavam prestes a cair. Em meados do ano passado, afirmou aos investidores que estava “mudando o foco para administrar a sensibilidade à redução das taxas” ou, efetivamente, proteger-se se as taxas caíssem novamente.
Becker, o diretor financeiro Daniel Beck e o presidente Michael Descheneaux não falaram publicamente desde o colapso do banco. Em uma conferência três dias antes do colapso da instituição, Becker comentou que era “um ótimo momento para abrir uma empresa”.
Ao longo do ano passado, Becker recebeu quase US$ 10 milhões entre salários e prêmios. Descheneaux embolsou US$ 4,6 milhões e Beck ganhou US$ 3,6 milhões, informou o banco no último balanço. O comitê de remuneração do SVB ainda elogiou a “forte liderança” dos executivos na gestão de riscos.
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